Ana Néri: a primeira enfermeira de guerra do Brasil
Nascida em Cachoeira, BA, em 1814, Ana se tornou a primeira enfermeira de guerra do Brasil.
Viúva de um militar e com boa condição financeira, Ana decidiu compor o grupo de 18 mil baianos que formaram um batalhão.
Pouco restava para um mulher de 50 anos (quando a expectativa de vida era de 30 anos). Com todos os filhos alistados na Guerra do Paraguai, não pensou duas vezes antes de se alistar como enfermeira voluntária e então, começou o maior desafio de sua vida.
Ela oferecia muito mais que curativos tanto para brasileiros quanto para estrangeiros envolvidos. Brasileiros, argentinos, e até paraguaios recebiam igual atenção. E a partir disso começou a ser chamada de “mãe dos brasileiros”.
Após seu marido morrer em 1843(ou 1844, as fontes divergem), ela se dedicou a cuidar e educar dos filhos, os quais dois se tornaram médicos e um seguiu carreira militar.
A guerra do Paraguai entrou em sua vida em 1865 quando ela mandou uma carta ao presidente da província da Bahia que dizia:
“ como brasileira, não posso ser indiferente aos sofrimentos de meus compatriotas e, como mãe, não podendo resistir à separação dos objetos que me são caros, desejava acompanhá-los por toda parte, mesmo no teatro da guerra, mas minha posição e meu sexo não impedem que eu ofereça meus serviços em qualquer dos hospitais do Rio Grande do Sul, onde se façam precisos, como que satisfarei ao mesmo tempo os impulsos de mãe e os deveres de humanidade para aqueles que sacrificam suas vidas pela honra e integridade do Império. Acolha vossa excelência este meu espontâneo oferecimento, ditado tão somente pela voz do coração”
A sua oferta foi aceita dias mais tarde e junto à resposta vieram a crítica da sociedade baiana, alegando que ela estava louca, que guerra era coisa para homens e que não seria vista com bons olhos como enfermeira do exército. Independente disso, ela foi ao Rio Grande do Sul, onde trabalhou em hospitais montados aqui no Brasil, no Paraguai e na Argentina. No Paraguai ela transformou a própria casa em enfermaria.
Se o Brasil não tinha Exército para uma batalha daquele porte, quem dirá recursos médicos.
Nos anos que esteve na guerra, Ana viu todos os tipos de horrores possíveis, de carnificinas e dizimação da população masculina a fome que levou a morte muitas famílias.
Entretanto, nenhum horror foi tão grande quando, entre mortos e feridos no acampamento, encontrou o corpo do próprio filho, sem vida. Conta-se que mal teve tempo de chorar, quando um soldado adversário gemeu ela correu ajudá-lo sem nenhum rancor. Uma semana depois viu seu sobrinho morrer e seu outro filho ferido.
Mas nem assim, com a dor da perda ela desistiu ou interrompeu sua ajuda aos que permaneciam em guerra, suas viúvas ou seus órfãos.
Em 1870 com o fim do conflito ela retornou ao Brasil e se fixou no Rio de Janeiro. Levou consigo quatro crianças órfãs para criar.
Foi honrada pelo governo com as medalhas: Humanitária de Primeira Classe e Geral de Campanha. Ela entrou para a história do país como a primeira enfermeira de guerra e foi indicada precursora da Cruz Vermelha em território nacional.
Morreu dez anos depois, em 1880, e em 2009 recebeu justa homenagem, ao ser a primeira mulher para entrar para o Livro de Heróis e Heroínas da Pátria.
FONTE:
Livro: Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Braisl, de Duda Porto de Souza e Aryane Cararo, Ano: 2018, Editora Seguinte.